Brasil será o país do Bitcoin, diz defensor de moeda criptográfica
Consultor de tecnologia é dono de câmbio brasileiro da moeda.
Economista alerta para riscos de volatilidade do Bitcoin.
O Bitcoin é uma moeda baseada nos princípios de redes ponto-a-ponto
(P2P). O “bit” no nome vem de “BitTorrent”, uma tecnologia empregada na
transferência direta de arquivos entre internautas. Assim como as
tecnologias P2P para arquivos buscam descentralizar a distribuição de
dados, o Bitcoin quer descentralizar a moeda, desvinculando-a de
qualquer governo ou instituição de controle. A moeda ganhou notoriedade
em 2011 quando foi usada no comércio ilegal de drogas.
O Bitcoin funciona de maneira simples: você baixa o software do
Bitcoin, cria uma “carteira virtual” e passa a fazer parte da rede que
gerencia as transações com bitcoins (BTC). Ao realizar os cálculos que a
rede precisa, você tem chances de ganhar Bitcoins em troca do “esforço”
do computador. Mas, hoje, a complexidade é tão grande – os bastidores
do Bitcoin não são nada simples – que a única maneira real de obter BTC,
para a maioria, é comprando moedas dos vários sites de “câmbio”.
Mas, desde 2011, o Bitcoin vem sofrendo altos e baixos: sites que
trocavam Bitcoins por moeda comum (como dólares) foram comprometidos ou
tiveram falhas. O mercado chegou a “quebrar” com uma invasão ao Mt. Gox,
maior site de compra e venda de Bitcoins: o valor dos Bitcoins chegou a US$ 0,01.
O golpe mais recente à credibilidade do Bitcoin ocorreu com a invasão
do site Bitcoinica. Criado por um estudante de 17 anos chamado Zhou
Tong, o site pretendia facilitar ordens de compra e venda dentro da rede
Bitcoin para aqueles que queriam investir no valor da moeda. O site foi
comprometido duas vezes e os invasores roubaram a “carteira” da
empresa. O rombo total passa de R$ 600 mil com os valores de Bitcoin
atuais.
O Bitcoinica admitiu não ter um backup do banco de dados e está agora
tentando reestabelecer as contas de seus usuários e voltar a operar.
Apesar disso, o consultor de Tecnologia da Informação Leandro César, de Belo Horizonte, está otimista. Criador do Mercado Bitcoin,
um site de compra e venda de Bitcoins por reais, ele diz que o Bitcoin
irá ficar “mais forte” com os ataques que está sofrendo. “Se não
conseguiram matar o P2P tradicional para download [pirataria], também
não conseguirão matar o Bitcoin”, afirma.
Para ele, o Bitcoin sempre será uma “moeda alternativa”, não
reconhecida pelos governos. Há, porém, um espaço garantido para o
Bitcoin em alguns tipos de transações.
“O Bitcoin não é inimigo das leis e do mercado financeiro tradicional. O
Bitcoin é inimigo das formas de pagamento eletrônicas existentes hoje,
como cartão de crédito, Paypal e outros, pela sua facilidade,
transparência e custo zero”, explicou.
Ele diz que a moeda é popular no envio de remessas para o exterior e
que, em alguns países, como os Estados Unidos, é possível comprar “até
carros” com Bitcoin.
No Brasil, segundo César, o interesse maior está em investimentos que
se aproveitam do sobe-e-desce do valor do Bitcoin. “Mas, graças a Deus, a
volatilidade está acabando, o que vai facilitar a expansão do uso [do
Bitcoin] para comércio e outros”, disse. Em menos de um ano, o Mercado
Bitcoin movimentou mais de 12 mil BTC, que valem hoje R$ 120 mil. “O
brasileiro gosta de novidade e informalidade. Por isso acredito que o
Brasil será o país do Bitcoin”, aposta.
“Todo cuidado é pouco” alerta especialista
Para Gilson Schwartz, economista, sociólogo e professor da USP, o
Bitcoin faz parte de uma onda de novas tecnologias que estão criando
desafios para leis nacionais em várias áreas, como a propriedade
intelectual, tributação, supervisão e segurança. Mas, se em um primeiro
momento parece que essas tecnologias estão eliminando intermediários,
elas podem, em casos como o do Bitcoin, criar novos intermediários.
“Em alguns casos, a desintermediação, ou seja, eliminação de
intermediários por meio de transações diretas entre os interessados,
parece escambo, mas uma análise mais detida revela que, a exemplo do
bitcoin, não é escambo de verdade, mas sim o surgimento de novos
intermediários ou “infomediários” que no final das contas também querem
ganhar em cima de cada transação realizada”, explicou o economista.
O Bitcoin não tem o chamado “lastro” do governo, uma garantia de que a
moeda deve ser aceita na compra de produtos e quitação de dívidas. Por
isso, o Bitcoin não é monitorado ou controlado. A qualquer momento, os
BTC podem passar a não valer nada. Mas, para o professor Schwartz, não
há, nesse momento, interesse dos governos em mudar a situação. “Por
enquanto se trata de uma plataforma que não tem relevância se comparada
com os problemas em curso em alguns dos principais bancos e sistemas
financeiros globais, a real fonte de dor de cabeça dos governos e bancos
centrais”, observa.
A falta de regulamentação, no entanto, tem consequências para os
usuários, e segundo o professor, o Bitcoin já se mostrou “extremamente
volátil”. “O potencial de manipulação é enorme, tanto dos donos da
plataforma quanto de usuários com mais tempo para especular”, disse.
Ele recomenda que qualquer interessado em iniciar a compra e venda de
Bitcoins procure notícias na internet para saber o que anda acontecendo.
“Nos últimos meses, as más notícias apareceram com mais frequência,
portanto todo cuidado é pouco”, advertiu.
Devido à crise global e os novos meios de pagamento e comércio – como
celulares e até os mercados virtuais em games -, existe um grande
potencial para colocar ideias em prática. “Justamente por isso é preciso
ficar muito alerta para os “negócios da China”, ferramentas que parecem
um elixir da riqueza fácil, mas que podem acabar dando dor de cabeça e
enriquecendo apenas alguns espertos”, alerta Schwartz.
Cinco questões sobre a moeda Bitcoin |
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O que é Bitcoin? |
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Como adquirir? |
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Quanto vale? |
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Quais os riscos? |
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O que posso comprar com Bitcoins? |