
Crianças e computador: combinação maléfica?
Existem coisas na vida que eu não entendo. As regras do rúgbi. O sucesso
de David Guetta. Como dar um chute alto no game Fifa 2012.
“Você aperta o Y e o A bem rápido, tipo quase ao mesmo tempo”, diz meu
filho Patrick, que tem 6 anos. Observo seu polegares pequenos
transitando agilmente entre os botões. Ele já sabia jogar games de
computador antes mesmo de ler.
Hoje ele usa seu Nintendo DS com a mesma frequência e familiaridade com
que eu uso meu celular; quando não tem nada para fazer ele recorre ao
Fifa, jogando games, modificando seu time ou treinando jogadas. Isso não
me incomoda, exceto quando ele se envolve tanto com uma partida virtual
que até chora. Meus e-mails nunca me fazem chorar.
Vou para eventos de adultos –casamentos, aniversários, almoços que se
prolongam um dia inteiro– e sempre, em algum momento, vejo criancinhas
reunidas em volta de um aparelho: um telefone, um iPad, um console de
mão.
Elas estão absortas e quietas, não estão atrapalhando o dia das outras
pessoas, o que é uma coisa boa. Não é? Afinal, quando estamos falando de
crianças, não adianta muito fazer de conta que a tecnologia não existe.
Seria como fazer de conta que Lego não existe.
Quando os garotos vão às casas uns dos outros, eles jogam futebol (na
vida real), jogam futebol (no X-Box 360 ou PlayStation 3) ou pulam uns
em cima dos outros numa grande pilha, rolam pelo chão e gritam.
Para ser honesta, meu filho tem uma facilidade com a tecnologia que às
vezes acho assustadora; é o caso até mesmo da irmãzinha dele, de 1 ano e
meio. A nenê me assusta porque ela vive apagando coisas do meu iPad.
Patrick me assusta porque ele conseguia usar os controles do Nintendo
Wii, mudar de jogo para jogo, escolher jogadores e montar times quando
tinha 4 anos.
Ele ainda não sabe amarrar os cordões dos sapatos. Há pesquisas que
indicam que ele não é o único: uma sondagem feita com 2.200 mães em 11
países constatou que 70% dos filhos delas de 2 a 5 anos de idade ficavam
à vontade jogando jogos de computador, mas apenas 11% passaram no teste
dos cordões dos sapatos.
é claro que a maioria dos calçados infantis hoje é fechada com tiras de
Velcro. A história dos cordões dos sapatos não tem problema. Mas os
jogos de computador me incomodam, mesmo assim. é o desnível de
conhecimento. Não faço ideia do que Patrick está fazendo quando ele joga
Zelda ou chora por pênaltis no Classics 6, porque, tirando uma ou outra
partida de Space Invaders, nunca me interessei por jogos de computador.
As coisas com que meus filhos brincam são principalmente variações de
algo que eu mesma fazia quando era pequena, de modo que, se não souberem
como prosseguir, eu posso ajudar. Com jogos de computador, contudo, eu
sou inútil.
MOSHI MONSTERS
Michael Acton Smith é um homem simpático de 37 anos. Tem cabelão grande e
se veste de preto, levando jornalistas de economia a descrevê-lo como
“rocknroll”. Na realidade, é um nerd: um entusiasta constante, alguém
tão dedicado à sua partida semanal de futebol com seus amigos quanto é
dedicado a seu trabalho. E qual seria esse trabalho? Moshi Monsters.
Moshi Monsters é um site britânico para crianças pequenas, em que elas
escolhem seu próprio monstro, fazem adaptações nele segundo seus gostos e
o levam para conhecer o mundo: saem para conhecer outros Moshis, jogam
quebra-cabeças, ganham pontos, decoram a casa do monstro, plantam flores
e ganham simpáticos bichinhos de estimação chamados Moshlings.
Soa terrível? é evidente que você não tem entre 6 e 12 anos. Metade das
crianças britânicas dessa idade tem ou já teve um bicho de estimação
Moshi. Em todo o mundo há 60 milhões de usuários do site e esse número
esta aumentando; uma criança por segundo se cadastra no site, que só
surgiu on-line em 2008.
Ficou no passado a época em que crianças ficavam assistindo atentamente à
TV, consumiam filmes ou livros passivamente, compravam os produtos
relacionados aos filmes, e só isso. As crianças querem participar.
Elas sempre desenharam personagens alternativos, se fantasiaram de
super-heróis; o que o mundo digital faz é lhes proporcionar essa
oportunidade. Ele permite que as crianças moldem e compartilhem seu
próprio entretenimento. Assim, com Moshi Monster, não apenas elas
personalizam seu monstro-avatar como podem decorar o quarto dele, gastar
seus Rox (o dinheiro Moshi, que é ganho quando se completam tarefas),
escolher seus Moshlings. E podem comunicar-se com outras crianças.
Tudo isso é diversão fantástica e inspiradora para crianças –e motivo
de medo digital instantâneo para seus pais. Michael entende isso (na
realidade, acho que em boa parte do que ele faz, ele procura equilibrar
os desejos das crianças com os de seus pais). Ele descreve o Moshi
Monsters como “um jardim cercado por muros”, um ambiente de treinamento,
e observa que a comunicação entre usuários é monitorada atentamente.
Não se pode usar o aspecto social, por exemplo, a não ser que o pai ou a
mãe se cadastrem com um endereço de e-mail, a partir do qual o Moshi
obtém e armazena seu endereço de IP.
Mas Michael acredita que a pequena função de rede social do Moshi é útil
às crianças. O argumento dele é o seguinte: você não vai querer soltar
seu filho de 3 anos no rinque social brutal do Facebook sem que ele
antes passe por um tipo de treinamento básico inicial.
“Quisemos criar alguma coisa intermediária entre um velho oeste na
internet e um site que é completamente trancado. Tratamos as crianças
com respeito, sabemos que elas são inteligentes, e cabe a nós e a seus
pais lhes dar orientação sobre como se comportarem neste admirável novo
mundo da internet. é a mesma coisa que aconselhá-las a não falar com
desconhecidos e ensiná-las a atravessar a rua. Com o Moshi, elas
aprendem num ambiente que é desenhado especialmente para elas”.
O Moshi Monsters é um ambiente e tanto mesmo na vida real. Sua sede fica
no Tea Building, na zona leste de Londres. A recepção parece um bar de
praia no Taiti. Para os visitantes, há balinhas de goma Moshi Monsters,
pebolim e um velho jogo de Pac-Man de fliperama, ainda funcionando.
é como a ideia que um criador de set de Hollywood teria sobre o que
existe na cabeça de Nathan Barley. Irritada, penso que o Moshi não faz
muito sucesso entre os amigos de meu filho. Pelo menos não entre os
meninos. As cores alegres do site, seus personagens de olhos grandes,
são bonitinhos demais, e os games não são suficientemente competitivos.
Conto a Michael sobre meu filho e seu grupinho de garotos que rejeitam
Moshi. Ele não se abala –normal, em se tratando de um homem cuja
empresa vale £ 125 milhões (R$ 396 milhões) e está em franco
crescimento.
“As meninas costumam curtir Moshi um pouco mais que os meninos”, diz
ele. “A divisão é mais ou menos 65% meninas, 35% meninos. Os meninos
geralmente se afastam quando chegam aos 8 ou 9 anos. Quando estão no
site, eles se interessam mais pelos elementos competitivos: os
quebra-cabeças, os games. A ideia de virar mestre, de dominar algo, é
uma coisa muito mais de garotos; é por isso que eles decoram todas as
informações sobre cartas Pokemon ou aprendem a identificar todas as
bandeiras do mundo. As meninas adoram o aspecto social.”
E foi quando o Moshi Monsters introduziu o elemento social, em 2009, que
o site realmente decolou. “Muitas crianças não querem apenas brincar
on-line –querem vivenciar coisas com seus amigos, compartilhar
presentes com eles, exibir-se para eles. Como os adultos”, diz Michael.
“E nós não queremos que elas carreguem fotos ou dêem informações sobre
sua localização. Não deixamos que enviem mensagens particulares. Mas
acho fantástico que possam enviar um presente virtual a seu amigo,
deixar recados em seu mural ou bater papo nos fóruns.”
O problema social mais comum que os usuários do Moshi enfrentam é com
crianças que compartilham suas senhas com um colega de escola e depois o
“amigo” vai ao seu quarto e leva tudo.
O que o Moshi faz nesses casos é tentar convencer a pessoa a devolver as
coisas; quando ocorre bullying, o site pode proibir um usuário por
algum tempo ou até mesmo de modo permanente. Não apenas o ladrão de Rox
aprende uma lição, como a parte inocente começa a entender com
comportar-se com segurança numa rede social.
Recentemente o Moshi Monsters se expandiu do mundo virtual para o real,
com uma revista, que vende 200 mil exemplares por mês, além de cartões,
brinquedos de pelúcia, Lego, adesivos, livros e música.
Tenho que admitir que odeio todas essas tralhas, apesar dos esforços de
Michael de manter tudo que é Moshi de boa qualidade, estimulante e
apropriado para consumidores pequenos. Mas ele não tem filhos. Não é
obrigado a diariamente guardar e arrumar todas as tralhas de boa
qualidade.
Antes de partir, pergunto a Michael por que, em sua opinião, o Moshi
Monsters fez sucesso. Ele me diz que é graças a três elementos: cuidado,
social e história. Cuidado: crianças gostam de cuidar de coisas, desde
uma boneca ou um bicho de estimação real até um bicho de estimação
virtual ou um amigo imaginário. Social: elas gostam de interagir entre
elas. História: elas se entediam facilmente. Se um ambiente on-line não
tiver uma boa história embutida, a criançada simplesmente vai parar de
frequentá-lo.
Saio do Moshi Monsters entusiasmada. Gosto da originalidade do site –de
como os seis Monstros principais foram criados a partir de desenhos
bobinhos, sem a menor pesquisa de mercado. E saio levando um game para
Nintendo DS, o Moshling Zoo. Esse game foi Número Um nas paradas DS por
15 semanas, o tempo mais longo que qualquer game já ficou na primeira
posição.
Dou o game a Patrick, que brinca com ele por cinco minutos. “é só para
procurar coisas, Mãe”, ele diz. “E depois encontrar as coisas.” O que
ele curte, em termos de tecnologia, são jogos e esportes: tênis ou
ciclismo no Wii, Angry Birds no meu iPad, Fifa 2012 (futebol) ou Zelda
(um game de aventura e quebra-cabeça) em seu DS. Muitas vezes ele
reencena as cenas principais na vida real, para que possamos apreciar
suas habilidades de gênio.
BENéFICO?
Isso tudo é benéfico? Não faço ideia. Patrick realmente curte jogar seus
games, mas também se diverte enfiando o rosto numa cumbuca de açúcar em
cubinhos, e isso eu não incentivo.
Então converso com Sonia Livingston, professora da London School of
Economics que está no conselho executivo do Conselho de Segurança na
Internet, do Reino Unido, e é diretora do projeto EU Kids Online. De
acordo com ela, existem duas áreas comuns de preocupação para os pais.
Primeiro: quanto tempo seu filho passa jogando games. Segundo: o
conteúdo desses games.
“Os pais focam o fato de o game envolver futebol ou matar. Mas, para as
crianças, o que interessa são os níveis de habilidade, a competição,
ganhar pontos, derrotar outros jogadores. Não é o conteúdo que
interessa. As crianças têm muitas habilidades que precisam dominar, como
leitura e escrita, matemática, comer com garfo e faca. No caso dos
games, são habilidades que eles optam por aprender a dominar.”
Mas essas habilidades serão úteis na vida? Sei que o xadrez estimula os
cérebros das crianças e que Swingball melhora sua coordenação mão-olho,
mas jogar Super Mario Kart proporciona algo a meu filho, além do fato de
mantê-lo em silêncio por algum tempinho?
Livingstone explica que games em que um nível conduz ao desafio seguinte
podem ser benéficos ao raciocínio. Games repetitivos que você joga
sozinhos são menos úteis, embora possam ajudar, com persistência e
concentração. Embora tome o cuidado de não recomendar nada
especificamente, ela menciona que, para crianças mais velhas que meu
filho, games de mundo virtual, como SIM, SIM City ou World of Warcraft
(um game de roleplaying) podem ser criativamente estimulantes.
Ela dá dois conselhos aos pais. Primeiro: entre on-line com seus filhos
quando eles são pequenos, para ajudá-los a entender como controlar o uso
da internet. “Segundo”, diz ela: “grite menos com seu filho para ele
sair de frente do computador, e chame-o com mais frequência para ir ao
parque. Somos pais ocupados, e é fácil colocá-los diante de um game
enquanto nós cuidamos de nossos afazeres. Todas as crianças dizem que
usar o computador é uma maneira de passar o tempo, de evitar o tédio.”
Tédio: minha infância foi cheia disso. Horas passadas olhando gotas de
chuva descendo pela janela. Dias rabiscando desenhos de mundos
alternativos ou inventando programas de rádio em gravadores cassete. As
crianças de hoje dispõem de muito mais opções para acabar com o tédio,
desde desenhos animados o dia inteiro até um desfile infindável de
brinquedos eletrônicos falantes, cantantes, guinchantes.
Além disso, elas esperam que nós os ajudemos a se entreterem. Não me
recordo de adultos me darem instruções sobre como fazer coisas, com a
exceção de andar de bicicleta. E mesmo isso foi apenas um empurrão nas
costas enquanto eu descia o morro, indo cair na valeta. Geralmente
éramos deixados a sós para fazer o que quer que estivéssemos fazendo.
Hoje em dia, não apenas somos incentivados a mostrar o amor que sentimos
por nossos filhos, como a consciência crescente dos direitos das
crianças significa que temos que cuidar mais delas. A lei insiste. Você
não pode andar de carro sem que elas estejam acomodadas e presas com o
cinto de segurança.
Não pode deixá-las sozinhas enquanto você vai ao supermercado. Jamais,
hoje, você poderia mandar seu filho ir brincar na rua às 9h do sábado e
dizer a ele que voltasse apenas para o jantar.
Talvez não seja surpreendente que de vez em quando os empurremos para
diante de games de computador. Sim, é para nos proporcionar um descanso
deles. Mas também para lhes proporcionar um descanso de nós.
PREOCUPADOS
Livingstone me diz que as atitudes dos britânicos em relação à
tecnologia diferem das de outros países. Basicamente, Reino Unido,
Holanda e Escandinávia estão bem à frente de outras partes da Europa, em
se tratando da vida digital. Mas os britânicos são de longe os mais
preocupados com a internet –aliás, somos os mais preocupados com tudo.
Nos países nórdicos os direitos das crianças estão em estágio muito
avançado, e as pessoas têm confiança no bom senso e segurança de seus
filhos. No sul da Europa, as pessoas se sentem mais confiantes em sua
posição de chefe de família. Se mandam seus filhos saírem da internet,
elas não ficam com sentimentos de culpa por isso. E, graças ao clima, a
maioria das crianças brinca fora de casa, de qualquer jeito.
Em suma, no Reino Unido o tempo é ruim e nós vivemos preocupados com
pedófilos, então as crianças ficam presas em casa, olhando fixamente
para várias telas. Por sorte os pedófilos não sabem usar a internet.
Me recordo da primeira vez em que vi um game de computador. Era o velho
jogo de tênis Pong: lento e sem sofisticação, tão emocionante quanto
jogar pingue-pongue com uma meia embolada. Não surpreende que eu nunca
tenha virado geek.
Mas o que teria acontecido se eu tivesse nascido mais tarde e sido
adolescente numa época em que jogos de computador eram tão comuns e
divertidos quanto Xadrez Chinês? Será que eu ficaria tão interessada em
apresentar meus filhos aos videogames clássicos quanto fico quando leio
para eles minhas histórias favoritas de Roald Dahl?
Converso com Dan du Preez, programador de computadores que vive em Leeds
e tem 28 anos. Seu filho tem 6 anos, e ele curte Minecraft. Trata-se de
um mundo on-line que se parece um pouco com Lego: tudo nele é feito de
blocos. é tremendamente popular: já foram vendidos 9 milhões de jogos,
sendo que sua versão completa só está à venda há 18 meses.
No Minecraft não existe final: você simplesmente constrói coisas, cria
seu próprio ambiente. Mas, para apimentar as coisas um pouco, há o modo
ataque, em que aranhas invadem tudo e destroem o que você construiu.
Esse modo pode ser ligado ou desligado.
Dan se mostra confiante quando o assunto é tecnologia. Quando era jovem,
gostava de frequentar salas de bate-papo, mas isso não quer dizer que
ele queira que seu filho use as redes sociais — “não enquanto ele não
tiver maturidade suficiente para saber como se comportar nelas e não
tiver casca suficientemente grossa”.
E ele também não aprova os games on-line envolvendo múltiplos jogadores,
nem para ele mesmo, nem para seu filho, porque você precisa estar
diante do computador em determinado horário para jogar e “não pode
pausar a ação, algo que crianças não entendem”.
Dan acha que as crianças devem aprender o que realmente são os
computadores. Ele é fã do Code Club, que visa ensinar crianças em
escolas a programar computadores, e acha que era melhor quando os
consoles eram mais simples, não tão bonitos quanto são hoje. Você não
tem vontade de tirar a capa de trás de um iPad e mexer com suas
entranhas.
é perfeito demais e muito caro demais. Já os computadores com que Dan
conviveu na infância eram desajeitados e básicos, fáceis de desmontar e
entender. Quando seu filho for um pouco mais velho, Dan pretende lhe
mostrar que há mais o que fazer com um X-Box do que apenas jogar games.
Dan vai lhe revelar que há um computador dentro do console segurado na
mão e que seu filho pode fazer esse computador funcionar de outra
maneira.
JOGE VOCê MESMO
Tudo isso está tão além de minha compreensão que fico um pouco
desanimada. Bom, pelo menos, ao que parece, é possível construir um
computador virtual no Minecraft. Quem sabe Patrick e eu possamos tentar.
Dan diz: “Quando eu trabalhei numa loja de games, vi muitos pais
comprando games que eram totalmente inapropriados para crianças, e eu
chamava a atenção deles para isso, mas eles não levavam em conta o que
eu estava dizendo. A melhor maneira de descobrir o que serve é alugar
games e jogá-los você mesmo.” é fácil para ele dizer isso. Duvido que
Dan já tenha passado duas horas tentando convencer Lara Croft a parar de
chocar-se com as paredes.
Os Moshi Monsters são simpáticos o suficiente para que eu quisesse levar
algumas crianças ao seu local de trabalho, então levei Violet, que
adora Moshis, Francesca, que gosta dos cartões e dos produtos, e
Patrick, que não gosta de nada disso mas, educado, experimenta alguns
dos quebra-cabeças.
Na sede do Moshi, as crianças ficam excitadíssimas com o ambiente em que
se encontram: a parede de colorir, os jogos de fliperama, a sala de
reuniões numa Casa na árvore. Mas o aspecto mais excitante da viagem,
para elas, é a máquina de balas de goma. Elas ficam mascando balas
durante toda a visita.
No final da visita, são levadas a uma sala para experimentar alguns
produtos cuidadosamente escolhidos. Os três ignoram tudo, preferindo
jogar-se em cima dos pufes e soltar gargalhadas.
Crianças são assim mesmo. Elas têm suas próprias maneiras de fazer
coisas. Vivem fascinadas por alguma coisa que está ao lado, focando
sobre coisas que você não chegou a perceber. Você pode levá-las a um
playground, mas não saberá se o que vai chamar sua atenção será o
escorregador, a balança de corda ou o botãozinho que desliga a fonte de
água.
Mesmo que eu jogue todos os games que meus filhos jogam, o que eu curto
na experiência não é o mesmo que eles curtem. Eu gosto do aspecto
gráfico bobinho, dos barulhos engraçados. Eles levam muito a sério as
posições das medalhas.
Essa festa é deles, não minha. Só o que eu posso fazer é visitar: checar
as saídas de incêndio, garantir que todos os presentes tenham a mesma
idade e que eles não comam doces demais, para não vomitarem na volta
para casa. Ah, e garantir que um adulto responsável –eu?– esteja
presente para o caso de alguma emergência.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/1127238-criancas-e-computador-combinacao-malefica.shtml