Porque é a Lei de Moore, e não a mobilidade, que está matando o PC - Asplan Sistemas

Porque é a Lei de Moore, e não a mobilidade, que está matando o PC


Chips podem ter se tornado tão rápidos que mesmo os mais antigos são o suficiente para a maioria dos usuários, reduzindo a necessidade de upgrades e as vendas de novas máquinas.

Embora os rumores da morte do PC sejam um grande exagero – uma
indústria que comercializou mais de 350 milhões de unidades em 2012 não
está “morta” – não há dúvidas que que os computadores pessoais não
vendem tão bem quanto antes. Os analistas ainda prevêem que as vendas de
PCs irão exceder em muito as de tablets num futuro próximo, mas a taxa
de crescimento nas vendas é praticamente nula. A grande pergunta é:
porque?

Há algumas teorias nas quais a sabedoria popular se baseia. Muitos
culpam a estagnação nas vendas de PCs em uma economia igualmente
estagnada, ou apontam para a ascensão dos smartphones e tablets. Outros
argumentam (de forma persuasiva) que o pouco crescimento pode ser
atribuído às idiossincrasias do mercado de PCs nos países em
desenvolvimento, onde os computadores são um item “de luxo” raramente
substituído. Segundo os analistas, uma “segunda onda” de vendas ainda
está por vir nestes países.

Assim como a maioria dos setores econômicos, o mercado de PCs é
influenciado por uma enorme quantidade de fatores, e há um pouco de
verdade em todas as três explicações. Mas entretanto, após observar
minha sogra alegremente usando o Facebook e enviando e-mails em um PC de
quase 10 anos com um processador Pentium 4, uma possibilidade mais
insidiosa me veio à mente.

Será que o desempenho dos processadores atingiu um nível “bom o
suficiente” para a maioria dos usuários alguns anos atrás? Seriam estas
máquinas mais velhas ainda boas o bastante para completar as tarefas do
dia-a-dia de uma pessoa comum, reduzindo o incentivo para um upgrade?

“Antigamente era necessário substituir o PC após alguns anos ou você
ficaria muito para trás. Se não fizesse isso, não conseguira nem rodar
as versões mais recentes de seus programas”, diz Linley Gwennap,
principal analista do Linley Group, uma empresa de pesquisa focada em
semicondutores e microprocessadores. “Agora você pode manter o mesmo PC
por cinco, seis, sete anos sem problemas. Sim, ele pode ser um pouco
lento, mas não o bastante para atrapalhar o uso diário”.

Processadores antigos ainda são o suficiente para o dia-a-dia

Isto pode ser um choque para os entusiastas que tentam tirar o máximo
de desempenho de seus PCs, mas o cidadão comum quase nunca converte
vídeos, e você não irá vê-lo disputando uma partida de Crysis 3. Em vez
disso ele passa a maior parte do tempo em tarefas mais mundanas,
geralmente centradas na web: compras online, envio de e-mails, contato
com família e amigos em redes sociais, talvez um vídeo ocasional no
YouTube – na resolução padrão, nada de HD – ou jogando algumas partidas
de Paciência.

Em outras palavras, de forma alguma o tipo de atividade que pede um
processador Intel Core i7 overclockado e refrigerado a água. Ou mesmo um
dos modernos processadores Intel Core i3 da família Ivy Bridge, se
formos honestos.

“Se você está apenas navegando na web, montando algumas planilhas
aqui e editando alguns textos ali, não vai notar a diferença entre um
processador mais antigo de 2.5 GHz e um modelo recente de 3 GHz”, diz
Gwennap.

O PC Pentium 4 de minha sogra engasga um pouco (especialmente aos
meus olhos), mas aguenta sem problemas tarefas como o uso básico na web e
reprodução de vídeo em definição padrão. Mais ainda, a necessidade por
chips sofisticadíssimos pode ser reduzida ainda mais à medida em que
mais e mais tarefas que antes exigiam computadores poderosos fazem a
transição para servidores na nuvem. Veja por exemplo o editor de imagens Pixlr, da AutoDesk, e a audaciosa iniciativa GeForce Grid da Nvidia, além de uma multidão de serviços de streaming de vídeo. Os Chromebooks estão se tornando populares por um motivo.

moore_borderlands2-360px.jpg
Apesar de todos os efeitos visuais, Borderlands 2 ainda
roda bem em máquinas com processadores Intel Core 2

Processadores Intel Core 2 Duo e Core 2 Quad foram lançados em 2006, e
ainda tem bom desempenho mesmo que você esteja levando seu PC além das
tarefas básicas na web. Gamers ainda podem jogar a maioria dos títulos
modernos (como Borderlands 2 e Skyrim) com bom nível de detalhes e
resolução HD em computadores com processadores Core 2. Testes recentes
feitos por sites como o Tom’s Hardware e OCAholic
mostram que estes processadores ainda se comparam bem em relação a
alguns modelos mais recentes da AMD e da família Intel Core.
Processadores mais antigos da AMD, como o Phenom II X4 Black Edition de
3.4 GHz, lançado em 2009, também ainda “tem jogo”, de acordo com clientes satisfeitos no site especializado Newegg.

Há um motivo pra isso, diz Gwenapp. A Lei de Moore – pelo menos na
forma em que geralmente é mencionada – se transformou na “Teoria Mais ou
Menos Desprovada de Moore” nas últimas gerações de processadores.

“Acho que estamos aquém da lei de Moore desde que a Intel atingiu a
Power Wall (ponto no qual não vale a pena aumentar o clock de um
processador, porque o consumo de energia e calor gerado são excessivos)
em 2005”, disse Gwenapp em uma entrevista por telefone. “Nesse ponto
energia se tornou o fator limitante, não a tecnologia ou quantidade de
transistores”. Os ganhos de desempenho foram reduzidos de forma ainda
mais dramática depois que a Intel lançou os primeiros chips baseados na
arquitetura Nehalem no final de 2008”.

A Lei de Moore dá de cara com a parede

Antes de entrarmos em mais detalhes, vamos recapitular alguns pontos:
a Lei de Moore leva o nome do ex-CEO e co-fundador da Intel, que em
1965 previu que o número de transistores que poderiam ser colocados em
um circuito integrado iria dobrar a cada dois anos. A maioria das
pessoas cita uma versão modificada da lei, proferida por David House, um
executivo da Intel, que alega que o poder de processamento dobra a cada
18 meses. Tecnicamente a Lei de Moore ainda se mantém. é a
interpretação de House que tem deixado a desejar.

“O crescimento em desempenho dos processadores da Intel foi reduzido
drasticamente”, escreveu Gwennap em uma coluna na newsletter
Microprocessor Report em dezembro de 2012. “…mesmo levando em conta o
modesto ganho com os novos processadores Sandy Bridge, o desempenho vem
aumentando a uma taxa de apenas 10% ao ano entre os desktops e 16% ao
ano entre os notebooks (entre 2009 e 2012), muito longe dos bons tempos
de um crescimento anual de 60%”.

Em outras palavras, os processadores mais novos não são mais tão
superiores aos seus antecessores. Para o usuário comum, que basicamente
usa o Facebook, e-mail e iTunes, a diferença no dia-a-dia entre um
processador Intel Core 2 e um modelo mais moderno é quase inexistente,
não importa o que dizem os benchmarks.

“Certamente acredito que a redução no ganho de desempenho dos
computadores é um grande fator [na redução das vendas]”, disse Gwenapp à
PCWorld. “Talvez mais ainda que os tablets. Porque substituir seu PC se
o novo modelo não é notavelmente mais rápido do que aquele que você
comprou dois ou três anos atrás”?

O desempenho fica em segundo plano

Mas o argumento de que “os processadores são bons o suficiente” gera
controvérsia. “Estou aqui há 20 anos, e naquela época as pessoas já
diziam que um Pentium de 60 MHz com 1 MB de RAM e Windows 3.1 era ‘bom o
suficiente’”, disse Dan Snyder, Gerente de PR, na Intel, à PCWorld via
e-mail. A idéia do “bom o suficiente” circula desde sempre. Lembram-se
do mito de que Bill Gates teria dito que 640 KB de RAM seriam o suficiente para qualquer um?

Mas desta vez há um detalhe: Snyder listou vários exemplos dos mais
novos feitos tecnológicos da Intel – como processadores para tablets e
gráficos integrados mais poderosos – e embora todos eles sejam realmente
intrigantes por mérito próprio, nenhum envolve um salto no desempenho
“bruto” do processador (e como poderia, com as limitações da Power
Wall?).

Em vez disso, os processadores modernos focam na introdução de extras
que agregam valor para complementar o ganho incremental anual de
desempenho. Gráficos integrados melhoraram tremendamente nos últimos
anos, especialmente nas APUs (Accelerated Processing Units)
da AMD e na GPU Intel HD Graphics 4000 inclusa em alguns processadores
da família Ivy Bridge. De fato, os gráficos integrados evoluíram ao
ponto de serem capazes de oferecer experiências de jogo bastante
aceitáveis, se você estiver disposto a reduzir o nível de detalhes
gráficos no jogo.

A redução no consumo de energia é outro foco para os fabricantes de
chips, e não apenas para aumentar a autonomia de bateria em tablets e
notebooks. Os ganhos em energia e desempenho gráfico introduzidos nos
processadores modernos podem na verdade ajudar a compensar os ganhos
incrementais no desempenho do processador.

moore_amdtrinity-360px.jpg
Este esquemático da arquitetura AMD Trinity mostra a
importância da GPU. Compare o tamanho dela com o das CPUs!

“A Lei de Moore sempre foi sobre o custo dos transistores, mas também
sobre o aumento no desempenho, já que com custo menor você seria capaz
de colocar mais e mais deles no circuito”, disse Gary Silcott, Gerente
Sênior de PR para as CPUs e APUs da AMD via e-mail. “à medida em que
exploramos os limites físicos dos materiais, e o custo das fábricas
sobe, em determinado ponto o custo dos transistores exige que você eleve
o desempenho e amplie a autonomia de bateria no próprio design do chip.
é por isso que a AMD migrou para o conceito de computação heterogênea
em suas arquiteturas de APUs. Combinando diferentes tipos de
processadores (CPUs e GPUs) em um mesmo “Sistema em um Chip” é possível
atender à uma gama muito maior de cargas de trabalho, com GigaFLOPS de
poder de processamento em uma área muito pequena e consumo de energia
muito baixo”.

Isso significa o que parece? “Absolutamente”, disse ele quando
perguntei se a AMD planejava focar a maior parte de seus esforços de
desenvolvimento na melhoria da eficiência energética e na capacidade dos
gráficos integrados, em vez de se concentrar apenas no desempenho do
processador. “Esta questão é o cerne de tudo sobre o que estamos
falando”.

Uma visão unificada, ao que parece, pode ser o futuro dos
processadores. No ano passado a AMD, Qualcomm, ARM, Samsung, Texas
Instruments e outros grandes fabricantes de chips criaram a Heterogenous System Architecture Foundation
para “impulsionar uma única arquitetura para superar as limitações de
programação das CPUs e GPUs atuais”. Em vez de derrubar a barreira do
consumo de energia, a HSA Foundation pretende contorná-la usando
técnicas de computação paralela.

Uma esperança

Mesmo que o desempenho bruto dos processadores não esteja se
acelerando o suficiente para encorajar novas vendas de PCs, o trabalho
da HSA Foundation aponta para um futuro brilhante tanto para o usuário
comum quanto para os entusiastas. E mesmo que a visão titubeie nos
detalhes – notavelmente a Nvidia e a Intel estão ausentes no grupo – os
líderes na indústria estão trabalhando duro para desenvolver avanços nos
processadores em si.

Tanto a Intel quando a AMD investem pesadamente em pesquisa e
desenvolvimento para se manter “na crista da onda” da tecnologia. A
Intel, em particular, tem reservados só para este ano US$ 18,2 bilhões –
bilhões! – de dólares para pesquisa e aquisições, com planos para a
produção de “wafers” (os discos de silício onde os processadores são
produzidos) maiores e novas tecnologias de litografia que permitirão à
empresa criar transistores cada vez menores nos próximos anos. O
processo de 22 nanômetros da família Ivy Bridge é só o começo.

Enquanto isso a corrida da Intel rumo à computação ubíqua – controles
por gestos, reconhecimento de fala e mais – não só avança os
tradicionais modelos de interface, como também as tecnologias envolvidas
geram demanda por mais poder de processamento. Espertos.

moore_haswell-360px.jpg
Durante a CES 2013 a Intel apresentou um conceito que ilustra
sua visão de um Ultrabook Híbrido com processador Haswell

A trégua temporária na ênfase no desempenho a qualquer custo é na
verdade uma coisa boa para a indústria, por mais que meu coração geek
doa quando digo isso. Encurralados contra a barreira no consumo de
energia, a Intel e a AMD estiveram livres para inovar em outras áreas
tecnológicas, o que lhes permitiu introduzir mudanças que alteram o
próprio conceito de computadores como os conhecemos.

“Com Ultrabooks, Tablets e conversíveis sensíveis ao toque, a
distinção entre os dispositivos móveis é cada vez menor”, disse Snyder,
da Intel, e novamente ele está certo. Se a empresa não tivesse sido
capaz de focar seus esforços na eficiência energética e desempenho
gráfico, será que teríamos um aparelho que quebra paradigmas como o Microsoft Surface Pro? Aposto que não.

O lançamento da próxima geração de processadores da Intel, de
codinome Haswell, promete inaugurar uma era de híbridos de tablet e
notebook leves, sem ventiladores barulhentos, com o poder de
processamento de um PC e baterias capazes de durar um dia inteiro. A
próxima geração de APUs da AMD e tecnologias recentemente anunciadas
como a Turbo Dock prometem o mesmo potencial, e jogos em 3D serão
suportados em qualquer lugar.

O futuro é nesta direção. A ausência de ganhos estratosféricos de
desempenho sem dúvida deixou muitas pessoas agarradas aos seus velhos
PCs muito além do tradicional ciclo de atualizações, mas a “calmaria”
também abriu portas que de outra forma teriam se mantido fechadas se a
Intel e a AMD tivessem continuado a “pisar fundo” no desempenho do
processador. Considere tudo isso como uma espécie de “retirada para
reagrupar”, e não um sinal do fim do PC.

Fonte: http://pcworld.uol.com.br/noticias/2013/03/11/porque-e-a-lei-de-moore-e-nao-a-mobilidade-que-esta-201cmatando201d-o-pc/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *